Hoje resolvi faxinar
o quarto.
Aquela coisa que faço quando eu mesma não
consigo entrar no cômodo de tanta bagunça, você bem sabe não é? E em meio
gavetas, folhas soltas e cadernos antigos, acabei abrindo por acaso na última
folha do meu caderno do cursinho. Encontrei lá rabiscos para fazer a caneta
funcionar, flores, borboletas – sabes como eu as amo –, estrelas, minha
assinatura várias vezes – tentativas inúteis de melhorá-la – e, vários corações
com seu nome escrito na minha melhor caligrafia.
Logo, fui tomada pela lembrança do dia em que o
escrevi. Era noite e eu havia voltado do cursinho, você estava sentado ao meu
lado, vendo-me desenhar e rabiscar algumas frases soltas, resolvi escrever seu
nome, bem bonito, conseguindo assim arrancar aquele seu sorriso que me tirava o
fôlego.
Você sempre dizia que amava minha caligrafia, e que
seu nome ficava muito mais bonito em minha letra. “Bobagem” – dizia eu – “Minha
letra nem é tão bonita assim.”. Recordo-me então como você adorava elogiar
coisas, e eu insistia em irritá-lo contrariando-o. “Não vou mais falar nada
então.” – você dizia – “Tudo o que eu falo você não acredita.”. Acreditava sim,
mas sempre achei não ser merecedora de tantos elogios e de tanto carinho. Meu
nome, o qual eu odeio como soa, ficava maravilhoso como você o dizia, minha
caligrafia virava um digno floreio antigo quando você a elogiava, eu era a mais
bela das mulheres quando descrita por seus olhos, a vida tinha mais cor quando
você me apontava coisas que eu não percebia. E com tudo isso, você me ensinou
meus olhos e a minha mente a me enxergar melhor, não sabes como eu sou grata por isso.
Fazem seis meses que você se foi – parei um
instante para contar –, e por mais que eu tenha pegado tantas lembranças,
retirado tudo o que me lembrava você do meu quarto e jogado no fundo do
armário, a vida ainda me prega essas pequenas peças.
Sorrio.
Sorrio por lembrar do momento, sorrio por lembrar
do seu sorriso e principalmente sorrio por mim, por permitir-me ter uma
lembrança boba e repentina depois de tanto tempo. E perceber que ela não me faz
mal, não me traz lágrimas e nem angústia, somente um sorriso aos lábios.
Isto basta para eu saber, que sim moço, eu já estou
bem.