terça-feira, 28 de julho de 2015

Já estou bem.



           Hoje resolvi faxinar o quarto.
Aquela coisa que faço quando eu mesma não consigo entrar no cômodo de tanta bagunça, você bem sabe não é? E em meio gavetas, folhas soltas e cadernos antigos, acabei abrindo por acaso na última folha do meu caderno do cursinho. Encontrei lá rabiscos para fazer a caneta funcionar, flores, borboletas – sabes como eu as amo –, estrelas, minha assinatura várias vezes – tentativas inúteis de melhorá-la – e, vários corações com seu nome escrito na minha melhor caligrafia.
Logo, fui tomada pela lembrança do dia em que o escrevi. Era noite e eu havia voltado do cursinho, você estava sentado ao meu lado, vendo-me desenhar e rabiscar algumas frases soltas, resolvi escrever seu nome, bem bonito, conseguindo assim arrancar aquele seu sorriso que me tirava o fôlego.
Você sempre dizia que amava minha caligrafia, e que seu nome ficava muito mais bonito em minha letra. “Bobagem” – dizia eu – “Minha letra nem é tão bonita assim.”. Recordo-me então como você adorava elogiar coisas, e eu insistia em irritá-lo contrariando-o. “Não vou mais falar nada então.” – você dizia – “Tudo o que eu falo você não acredita.”. Acreditava sim, mas sempre achei não ser merecedora de tantos elogios e de tanto carinho. Meu nome, o qual eu odeio como soa, ficava maravilhoso como você o dizia, minha caligrafia virava um digno floreio antigo quando você a elogiava, eu era a mais bela das mulheres quando descrita por seus olhos, a vida tinha mais cor quando você me apontava coisas que eu não percebia. E com tudo isso, você me ensinou meus olhos e a minha mente a me enxergar melhor, não sabes como eu sou grata por isso.
Fazem seis meses que você se foi – parei um instante para contar –, e por mais que eu tenha pegado tantas lembranças, retirado tudo o que me lembrava você do meu quarto e jogado no fundo do armário, a vida ainda me prega essas pequenas peças.
Sorrio.
Sorrio por lembrar do momento, sorrio por lembrar do seu sorriso e principalmente sorrio por mim, por permitir-me ter uma lembrança boba e repentina depois de tanto tempo. E perceber que ela não me faz mal, não me traz lágrimas e nem angústia, somente um sorriso aos lábios.
Isto basta para eu saber, que sim moço, eu já estou bem.

 

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Aprenda a amar sua própria companhia





Sempre fui a mestre em não ficar muito tempo só. Era angustiante não ter alguém pra contar como seu dia foi bosta e saber que este alguém faria de tudo pra você ficar melhor, era horrível estar na TPM achando que todos lhe odeiam e não ter quem te fizesse sentir mais amada e desejada que um copo de água no deserto. Estar sozinha, obrigada a saber que o único suporte que teria seria eu mesma, era assustador. Até porque, mesmo quando não estava propriamente em um relacionamento sério, sempre tinha aquela pessoa, que não muito longe acabava virando um namoradinho. Logo, encontrar-me totalmente jogada ao léu sem um pingo de carinho do sexo oposto era uma coisa riscada da minha listinha da vida.

Quando me deparei sozinha de verdade, há alguns meses atrás, sem realmente ninguém entrei em desespero. O estado no qual eu não era nem um pouco habituada batera em minha porta e invadiu meu castelo sem nem pedir licença. Era eu e eu mesma. Restava-me então duas opções; uma seria sair a procura de uma próxima pessoa como sempre ou me aceitar como apoio e companhia. A segunda opção? Um salto em algo que eu sabia que não era seguro, águas nunca antes navegadas.

Mas, surpreendentemente o aquário domou o leão e foi nessa que eu joguei, consciente de que a chance de dar errado era de 90%.

Chega pra todos acredito eu, a maldita hora em que você se verá sozinho, tendo que conviver apenas com si mesmo. E cá pra nós, na maioria das vezes, você odeia o que vê no espelho, o seu próprio coração ou até mesmo seus pensamentos. E se aturar, é uma tarefa bem difícil. Se esse momento chegou, é nele que você precisa parar e dar todo o seu carinho e atenção a uma pessoa há tempos esquecida; essa mesma que você admira triste no reflexo no espelho. Afinal, se você mesmo não se gostar, você que está aí dentro, porque alguém de fora gostaria? Convenhamos que outro alguém até pode lhe ajudar nessa tarefa, mas sabemos que isso é limitado, só podem ir até um pedaço do caminho, no resto, você está sozinho nessa.

Sempre fui acostumada a cuidar de outro alguém, dar todo o suporte, estar ali para ouvir e enxugar lágrimas, ter sempre os melhores conselhos e ser o motivo de uma risada em algum momento triste ou de estresse. Só que, por experiência própria, é maravilhoso quando você é capaz de fazer isso por si, quando se aceita e descobre que você é seu melhor amigo e que é ótima a sensação de saber se cuidar. Afinal, quem nunca teve aquela conversa franca com o melhor amigo, ouviu conselhos e mais conselhos, saiu com uma sensação maravilhosa, com um sorriso enorme, e que agora, depois daquela conversa tudo iria pra frente. Porém assim que você chegou em casa, deitou sua cabeça no travesseiro, se viu sozinho e se sentiu péssimo novamente, sem saber o que fazer com a tristeza que lhe tomava o peito. Eu sei, eu já me senti assim muitas vezes.

Aprendi aos poucos – com muito choro e vontade de desistir, claro –, mas eu fiz as pazes comigo, descobri que eu posso me fazer feliz, e isso é incrível.

"M, está dizendo que temos que ser felizes com nós mesmos sem precisar de ninguém e ficar sozinhos para sempre?"

Sim, podemos ser felizes sozinhos, mas não significa que isso implique ficar eternamente sozinhos, sem companhia alguma, isso seria horrível. Mas, pense comigo, quando você sabe que vai receber uma visita em sua casa, você não a arruma toda, limpa, deixa ela bem cheirosa e arejada, põe cada coisa em seu lugar? Pois então organize seu coração, lave sua alma e faxine sua mente.

Para que quando outra pessoa bater a sua porta, não acabe se perdendo na sua bagunça interna.